Você, autor.
Você pode escrever sua história! Mas, obviamente, lhe falarão detalhes ou terão sido acrescidos detalhes que não coadunam com sua subjetividade, com seu jeito próprio de ser de existir e de estar no mundo. Detalhes que talvez você perceba só depois de algum tempo. Todavia, pode acontecer de você viver e conviver por muito tempo de um modo e, em algum momento tudo que viveu tornar-se totalmente estranho a si mesmo. Talvez em um dado momento, você venha a se perguntar cadê sua vida de fato, pois o que está sendo vivido no momento pode se lhe parecer estranho, parecer não fazer parte do que pensou ser, ter vivido… Daí as expressões comuns em alguns discursos: O que fiz com a minha vida?! Tô ficando doida doido?! O que está acontecendo? Cadê minha vida? Quero minha vida de volta! Mas, que vida?! A vida que tem vivido, a vida que pensou viver ou, a vida que nunca viveu?
Algo faz falta… Vivências, experiências que foram escritas na folha, não foi você quem as escreveu… Alguém escreveu por você… Voluntariamente ou involuntariamente. Será? Pode ter sido isso uma questão existencial? Quais as implicações disso na vida de uma pessoa? Como saber? Só ouvindo o relato da existência da pessoa a partir dela mesma e sem interferência que seja por parte do ouvinte, que no caso, pode ser um profissional clínico. Neste caso o terapeuta irá acolher a demanda da pessoa de forma humana e respeitosa, para em seguida, com critérios de pesquisador mergulhar fundo no material fruto da escuta atenta que fora realizada sem nenhum tipo de agendamento e ou interferência de sua parte e, que viesse desviar o foco ou trazer qualquer tipo de prejuízo no resultado da história que precisa, necessariamente, ter começo, meio e fim.
Lembrando sempre que há casos e casos. A folha em branco está aí. Você escreverá?; você esperará que escrevam por você?; ou, você que não se acha capaz de escrever; ou ainda, você que, por inúmeras razões não escreveu ainda nesta folha de papel em branco por medo, por insegurança, por comodismo – não quis sair da sua zona de conforto, ou até mesmo em nome do amor você que deixou que o outro tomasse o papel em branco e escrevinhasse sua história, se assim lhes incomodar, está esperando o quê?! Logo, se for o caso, procure ajuda terapêutica, ou então, torne-se um escritor logo, sempre é tempo de começar!
Escreva você mesmo sua história! Assim sendo, não correrá o risco de ter que revisá-la e escrevê-la às pressas para situar-se no mundo, onde de repente pode lhe ser cobrado postura de autor, quando você, por imaturidade talvez, permitiu que a outra pessoa escrevesse todo o livro da sua vida, perdendo o seu leme. E, às vezes, em nome do amor ou, até mesmo de uma suposta fragilidade que o ser que ama diz ter o ser amado, este é podado. Logo, o ser que ama, involuntariamente prejudica o ser amado… Superproteção?! Ciúmes?! O quê então?!… A verdade é que, este, embora amado, mas podado ao longo da vida a dois, terá que alçar voo, quando o mundo lhe cobrar isto! Assim, como que para o desconhecido, o ser amado, que não se preparou para as adversidades da vida deixando tudo nas mãos do ser que ama, sofre, sentindo-se perdido. Apesar dos muitos motivos que levam pessoas a não serem autores autoras de suas próprias histórias, vale lembrar que, nunca é tarde para tomar o leme da sua vida e segurá-lo firme para não encalhar.
Por Aldo Bëlfia (Professor de Informática)